domingo, 1 de novembro de 2009

Transtornos Conversivos( Dissociativos)



Sigmund Freud introduziu a noção de conversão, mediante a qual uma idéia ameaçadora, perigosa ou proibida era reprimida através da sua transmutação num sintoma físico.
Cada conflito emocional possui um simbolismo inconsciente. Por exemplo, uma mulher com impulsos homicidas pode queixar-se de paralisia do braço direito, o que a impediria de atacar o marido. O alívio desse impulso, pela conversão em paralisia, recebe o nome de ganho primário.
O ganho secundário seriam as outras vantagens diretas e imediatas, como desobrigação de compromissos cotidianos, a simpatia e cuidados de outras pessoas, a atenção, a companhia. Esse comportamento doente possui um componente de aprendizagem de alguém na família que lançava mão da mesma estratégia para enfrentar situações estressantes.

O termo antigo para os transtornos conversivos( dissociativos) era histeria, referindo-se `a " histeros", que quer dizer útero errante, pois a sua falta de uso e deslocamento da sua posição natural, provocaria dores abdominais, sufocamento, palpitações, obstrução da garganta( globus histérico), referido como " bola na garganta que sobe e desce", cegueira e finalmente a loucura completa da mulher. Muitas mulheres foram queimadas na fogueira da inquisição, por estarem associadas à feitiçaria, diabo, incorporação de espíritos.
Atualmente o Transtorno Conversivo( Dissociativo) é considerado um distúrbio do funcionamento corporal discordante com a anatomia e fisiologia do sistema nervoso central(SNC) e periférico(SNP), ocorrendo em situações de estresse e resultando em disfunção considerável.( Roy, 1982).
Num primeiro momento as patologias conversivas parecem doenças neurológicas agudas( acidentes vasculares cerebrais, esclerose múltipla e outros). Porém os sintomas, avaliados pelo neurologista, não se enquadram nas características de distribuição dos nervos anatômicos periféricos, mas reproduzem a idéia que o paciente tem da anatomia humana. Dessa forma, os conflitos psiquicos são transformados em sintomas físicos, condensando e focalizando ideias de sintomas de uma disfunção física. Por provocarem incapacidade e serem agudas e dramáticas, demandam exclusão de possíveis doenças físicas. Muitos pacientes se submetem a exames, apesar do caráter transitório dos sintomas. Alguns pacientes demonstram angústia frente aos sintomas , outros parecem alheios ao que está acontecendo( la belle indifference).
Os transtornos conversivos possuem uma incidência anual de 22 casos para cada 100 mil pessoas nos EUA. Em hospitais gerais, 5 a 16 % de todos os pacientes manifestam algum sintoma conversivo. Não há dados estatísticos da prevalência e incidência no Brasil. A probabilidade de qualquer pessoa apresentar algum sintoma conversivo no decorrer da vida é alta, em torno de 33%. A maioria dos pacientes é de mulheres, na proporção de 5:1 em relação aos homens.
O tratamento consiste em identificar os fatores estressantes que mantêm os sintomas . É aconselhável que um médico assuma a centralização do tratamento, para evitar a peregrinação desnecessária em serviços de atenção primária. A psicoterapia está indicada para ajudar esse paciente a lidar de maneira mais eficaz com os seus conflitos emocionais. Se houver outras doenças psiquiátricas concomitantes, os tratamentos específicos devem ser oferecidos.
Entre os fatores perpetuadores do Transtorno Conversivo( Dissociativo) estão: estresse ocupacional, desajustes conjugais crônicos, depressão , ansiedade e ataques de pânico, traços de personalidade dependente e evitativa, crenças culturais de doença( superstição), reclamação médico-legal pendente e outros.

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